sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Saí do meu quarto na ponta dos pés, fui andando quietinha em direção a cozinha. O relógio da sala fazia TIC TAC. Abria a geladeira e peguei um pote de sorvete de pistache, fui para a sala e abri um livro que estava em cima da mesa, A Letra Escarlate, se me recordo bem, tinha uma boa história, mas eu queria ação. Fechei o livro e liguei a televisão, é claro que não tinha nada de interessante, já passava das 2 horas da manhã e meu sorvete estava quase ao fim. Bom, pelo menos agora minhas pálpebras estavam pesadas e minha cabeça pendia para trás, dormi ali mesmo no sofá.

Acordei parece que 20 minutos depois, meu corpo todo doía, estava zonza, meio aturdida. A casa estava tão escura, silenciosa, nem o relógio com seu TIC TAC pude ouvir, de repente começou a cair pedras no telhado. Não, não eram pedras, chovia granizo e ventava forte, acho que ouvi gritos lá fora, fui abrir a porta, meio indecisa ou era medo do que ia acabar vendo lá fora. Destranquei a porta e abri. Fiquei meio estarrecida, sem saber se voltava para dentro ou corria para fora. Achei estar delirando, pois não havia chuva, nem terra molhada ou vento, mas sim um sol que ofuscou meus olhos, o céu estava tão azul – uma azul que nunca vira antes – cores e pessoas estranhas de rostos sorridentes, cantantes. Que houve? Festa?

Eu podia sentir a vibração deles, estavam felizes, de verdade, me pegaram pelo pulso e me levaram para o meio do jardim, todos me olhavam ansiosos, esperavam por algo. Mas o que? Não fazia idéia nem se aquilo era em minha casa mesmo, um medo súbito veio crescendo dentro de mim, me apavorei, arregalei os olhos e tentei fugir, não importava para onde, mas eu tentava me esconder. Senti alguém tocar meu braço e me chamar, não distingui pela voz, mas foi como se eu pudesse confiar naquela pessoa, eu tinha que sair dali. Segui a pessoa – na verdade, era um homem, cabelos castanhos e pareceu ser seguro do que fazia – íamos nos esquivando das pessoas e corremos pela rua, o sol já tinha ido embora, agora só restavam alguns raios de luz e a iluminação fraca dos postes. Nos escondemos atrás de um muro, na quarta quadra que corremos, estava tudo em silêncio. Ele parou de vigiar a rua e olhou para mim, nos meus olhos e descendo para os lábios, estava sério. Disse n’um sussurro: “Não deveria estar aqui. Venha, vou te levar para casa.” Admito que fiquei pensativa quanto ir para casa, apesar do susto eu queria ficar por lá, com aquele rapaz.
- Mas se eu for, nos veremos de novo? - perguntei
- Um dia a gente se encontra, nem precisa me procurar, a gente se acha – ele disse se afastando, seus dedos se desenrolando dos meus.
As luzes se apagaram e cai sem forças no chão, tentei gritar, mas não tinha voz. Apaguei. “Acorde, menina, acorde!” escutei a voz de minha irmã. “Estamos atrasadas”. Estava deitada no sofá, então eu levantei, eram 06h35min da manhã. Eu tinha dormido, tinha sonhado. Apenas eu sonho.

Me arrumei como todos os dias e fui para minha aula de literatura, onde passei a manhã. Quando saí tive vontade de andar um pouco antes de voltar para casa, fiquei parada na banca de jornal enquanto esperava o ônibus chegar, estava cantarolando a canção que ouvi no sonho. O rapaz da banca parou o que fazia e olhava para mim com surpresa.
- Desculpe, eu te conheço, moça? – perguntou
Eu levantei o olhar e sorri feliz ao reconhecer aquelas feições, e respondi: - Só se for no mundo dos sonhos.
Caímos na gargalhada e ele veio ao meu encontro, pegou minhas mãos e perguntou:
- Quer fugir daqui?

Letícia Durães

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