sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O barulho das águas do mar era mais alto que o zunido do vento, os olhos piscavam cada vez mais pesados, a boca estava seca e os lábios rachados. As pernas trêmulas vacilavam em cada sopro forte do vento, Cristine se sentia mais leve com cada sussurro malicioso da ventania, uma fina garoa caia do céu molhando os cachos loiros de seus cabelos, sua mente em turbilhão fazia a cabeça doer e o cérebro queimar, arrancando lá do passado lembranças mortas e sentimentos perdidos. “É só mais um passo, Cristine, dê mais um passo.” Era isso que ela ouvia. Seu pé deslizou mais para frente do rochedo e desprendeu uma pedra que saiu rolando despenhadeiro abaixo, uma queda sem fim.
- Cristine! Não… venha para cá – a voz de sua irmã surgiu atrás dela.
- Vá embora, Manuele. Não chegue perto – sua voz tremula quase falhara.
- O que você pensa que está fazendo? Saia já daí ou eu vou te buscar a força.
- Acabou para mim, não tenho mais vontade de continuar.
- Por que não? Por que você amou e não foi amada? Vai acabar com tua vida depois de tudo que mamãe fez por nós? Cristine, a sua família te ama, você tem a nós.
A chuva começou a engrossar e o vento a uivar assustadoramente. A respiração de Manuele estava ofegante e seus cabelos voando com o vento, ela movia seu corpo cada vez mais perto da direção de sua irmã.
- Eu não quero ser um peso para ninguém e é o que eu sou. Olhe para mim! Olhe no que me tornei, eu não posso mais dançar e eu só sei dançar.
- Mas do que você está falando? O médico disse que seu tornozelo tem chances de voltar ao normal, você ainda pode dançar. Não fale bobagens, Cristine.
- Não. Eu não posso mais dançar ballet. Semana passada descobri na sessão de fisioterapia e eu não posso mais nem pensar em dança. Eu estou perdida.
- Ah, minha menina. Lembra de quando eu caí da árvore e quebrei o braço, tive que perder a minha formatura, pois fiquei em repouso no hospital? Foi o fim do mundo e você ficou do meu lado, você e a Roxi. Nós vamos ficar com você aconteça o que acontecer – disse Manuele em um sussurro quando se aproximava lentamente de Cristine, a envolvendo em um abraço e a arrastando pala longe do despenhadeiro.
- Vamos para casa.

Letícia Durães

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