sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Acordar de manhã e martelar a cabeça com pensamentos sobre o amanhã, sobre o que dizer quando o vizinho me cumprimentar ou qual roupa devo vestir para ir a padaria. Esconder as marcas de uma noite mal dormida com quilos de maquiagem no rosto e um sorriso fingido no canto da boca, a cabeça batendo mais forte a cada TUM TUM pesado das batidas do coração. Tudo planejado, tudo em seu lugar perfeitamente posicionado, nada podia sair de ordem. Fantasiava minha vida inteirinha, do amanhecer até o enoitecer, me prendendo ao conformismo, me limitando a uma bolha de plástico transparente que me permitia ver a vida passar aos meus olhos e perder o sentido.
Noite e dia não fazia mais diferença nenhuma para mim, nem se chovia e fazia frio, calor e flores se abrindo, apenas um borrão sem importância alguma. Também não ligava para refeições ou folgas do trabalho – isso funcionava como uma fuga. Dormia tarde e acordava cedo.
Sabe-se lá o porquê, decidi sair para espairecer um pouco, tinha muitos papéis a serem organizados, minha cabeça já não distinguia letra de número. Já estava tarde, ventava frio e serenava, estava com fome e parei em uma banca de doces, fiquei examinando de fora da vitrine, pensando em quantas calorias iria consumir – enfim uma preocupação comigo mesma!
- Você está comendo com os olhos mesmo? – escutei uma voz vinda da minha esquerda.
- Não… E-eu só… Ah! E se eu estivesse? – disse virando para a pessoa, meio estupefata.
- Calma moça! –ele disse levantando as mãos como que se rendesse – Eu só estava tentando te chamar de volta a realidade. Veja, está quase fechando, é melhor se apressar.
Entrei na loja e fiz meu pedido, o meu e mais um. Sai da loja e voltei com dois cafés e os quitutes nas mãos, sorri e ofereci para ele, que estava parado perto dos bancos da praça e olhando para o céu.
- Olhe – ele disse pegando os cafés e pondo em cima de um banco – Está vendo essas estrelas? Fora elas há milhares de outras, escondidas, talvez estejam com medo de serem descobertas.
- Ahn… Tome seu café, vai esfriar – falei meio encabulada.
- Foi assim com você? Estava escondida? Com medo de ser notada pelas esquinas? E, assim como as estrelas, cansou da surdina e resolver dar o ar das graças?
-Como? – arregalei os olhos com a surpresa.
- Sim? Eu sempre venho aqui, mas nunca te vi. Estava ali na livraria quando vi você parada em frente aos doces, como se nunca tivesse visto algo parecido antes. Tão diferente, nova dentre tantas pessoas iguais.
- Ah.. eu, eu, você…
- Tome seu café, querida. Vai esfriar. – ele disse baixinho me puxando pela cintura e sorrindo.

Letícia Ribeiro

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