sábado, 29 de outubro de 2011

Nos perdendo...

Me ajoelhava no sofá e espiava pela janela o movimento da rua. Apoiava a cabeça na madeira e pensava em quando veria alguém diferente na rua, uma quebra de rotina, uma escapada da normalidade, estava esperando que alguém acordasse daquele sonho de: levantar -> trabalhar -> dormir. Engraçado que eu ficava parada esperando a vida fluir, como era boba, ficava criando raízes no chão da sala, cuidando da vida monótona dos outros.
Na manhã seguinte, fui obrigada a ficar no jardim de casa – estávamos em reforma – sentei debaixo da sombra e abri um livro para passar o tempo, Orgulho e Preconceito, eu leio rápido então fechei o livro em algum capítulo mais a frente, pensei em ouvir música ou andar pelo bairro, mas odiava sair por aí sozinha, às vezes sentia os olhares me seguirem até sair de vista. Então abri o livro para continuar passando o tempo – que rastejava pela tarde quente.
- Com licença – ouvi uma voz meio rouca chamar do portão – Será que você pode me ajudar?
- Ahn – fui para perto do portão meio confusa e feliz – sim, feliz, o rapaz que chamara minha atenção era alto e estava sorrindo sem graça com o canto da boca, tirando os cabelos negros dos olhos – Depende... Diga.
- Ah desculpa, meu nome é Murilo, me mudei para a região semana passada – esperou uma confirmação minha que foi um imperceptível aceno positivo com a cabeça – Acontece que... ha é, bom, eu me perdi – disse abaixando o olhar envergonhado – E agora não sei nem em que direção seguir. Pode me ajudar, moça? Você parece ser a pessoa mais, digamos, normal aqui. Estou andando há horas!
Não conti a gargalhada, abri o portão e disse que iria ajudá-lo. Ele me disse o nome da rua e uma única referencia: perto da casa azul. Gritei para minha mãe que ia dar umas voltas com um amigo e saímos, os primeiros minutos foram tomados por um silêncio incômodo – sem contar constrangedor. Sem perceber cantarolei uma canção antiga que mamãe me ensinara, Murilo olhou para mim meio boquiaberto:
- Essa música é mais antiga que minha avó, hahaha – gargalhou se dobrando no meio da rua – minha mãe vive cantando ela.
- Eh... Que antiquado você, minha mãe me ensinou quando ainda usava fraldas – disse meio irônica e voltei a cantar, dessa vez em voz alta. Fiquei surpresa quando ele me acompanhou na canção, sorrindo orgulhoso. Continuamos andando e cantando, trocando algumas palavras vez por outra, rindo e nos dando cotoveladas.
- Ali! A casa azul que você falou. É ela, não é? – eu disse.
- É sim, andamos rápido. Como foi que me perdi? – falou com o olhar meio distante e se voltando para mim – Até que não foi de total ruim. Me diverti nessa meia hora.
- Os créditos são todos meus – eu disse rindo – agora eu tenho que ir, vai escurecer – fiz menção de sair quando ele me puxou o braço.
- Obrigado... Espera. Você não me disse seu nome.
- Ah! É Lis.
- Lis... Lis. O que seria de mim sem você, pequena Lis? – pegou minha mão e beijou-a – a gente se vê amanhã, garota Lis.
Amanhã? Pensei. Ele iria à minha casa amanhã? Ou esperaria o acaso? Enfim, eu fui para casa, feliz, cantando. Deitada na cama de noite, eu não conseguia dormir, revirava na cama e meus pensamentos se prendiam sobre Murilo. Mesmo tentando abafar isso com o travesseiro, eu pensava e pensava, sorrindo boba. Dormi com um sorriso nos lábios.
Na manhã seguinte – nem tão manhã, pois acordei tarde – mamãe conversava animada com alguém lá fora, quando entrou perguntei quem era, ela me disse: É um grande amigo meu que se mudou para cá. Teremos convidados para o almoço, ele veio com a mulher e os dois filhos. Sai acompanhada de minha mãe para cumprimentar as visitas. Parei no meio do caminho. “Que?”. Recebi um forte a perto de mão do homem, seguido por sua mulher e filha, mas gostei mesmo foi do sorriso cativante de Murilo.
- Não te disse – sussurrou ele.

Letícia Durães

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